Qual é a Origem do Frevo? Mergulhe na História Efervescente de Pernambuco
Frevo, essa palavra mágica que evoca imediatamente o sol, as ladeiras de Olinda e a energia contagiante do Carnaval de Pernambuco. Mas você sabe qual é a verdadeira história por trás desse ritmo que faz o chão tremer?
Mais do que apenas uma música, o Frevo é uma manifestação cultural completa, um símbolo de resistência e alegria nascido das tensões sociais e da genialidade popular. Se a sua intenção de busca é desvendar o mistério de sua criação, prepare-se: vamos mergulhar na história efervescente que deu origem a um dos maiores patrimônios do Brasil!
Frevo: Uma Introdução que “Ferve” e Contagia
O Frevo é o termo guarda-chuva para uma expressão artística que combina música instrumental, dança vibrante e a energia inconfundível das orquestras de rua. Ele é o retrato sonoro de Recife e Olinda, sua terra natal.
Na sua essência, o Frevo é uma resposta musical à rigidez das marchas tradicionais. É a liberdade, o improviso e a paixão brasileira transformados em ritmo acelerado, um verdadeiro convite à entrega total.
- Definição e Significado Cultural: O Frevo é uma forma de arte única, caracterizada pelo ritmo acelerado no compasso binário, executado por grandes orquestras de sopro e percussão.
- O Frevo além da música: A Tríade: Para entender o Frevo, é preciso reconhecer seus três pilares: o Frevo de Rua (instrumental, focado no passo), o Frevo de Bloco (cantado, com orquestra de pau e corda) e o Frevo Canção (cantado, mais melódico).
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O Berço Efervescente: Onde e Quando o Frevo Nasceu?
A gênese do Frevo não está em um palco formal, mas nas ruas caóticas e festivas das capitais pernambucanas, especificamente no período que vai do final do século XIX ao início do século XX.
O Contexto Histórico: Recife e Olinda no Século XIX
Recife, uma cidade portuária em plena transformação, era o cenário ideal para o surgimento de um ritmo tão revolucionário. O Carnaval da época era dominado por clubes rivais e grupos que disputavam a atenção e a admiração do público nas ruas.
- As tensões sociais e o Carnaval de Rua: A disputa por espaço e prestígio entre os blocos carnavalescos (os Clubes de Rua) era intensa. Essa rivalidade, muitas vezes, acabava evoluindo para confrontos de rua, criando a necessidade de “seguranças” especiais.
- A rivalidade das Orquestras (Clubes de Rua): Os clubes buscavam a música mais animada e criativa para atrair a multidão, acelerando o tempo das marchas para se destacarem. Foi dessa competição saudável e efervescente que nasceu a base rítmica do Frevo.
As Raízes Musicais: De Onde Veio a Melodia Acelerada?
O Frevo instrumental que conhecemos é uma verdadeira fusão. Ele não surgiu do nada, mas sim da apropriação e da aceleração de ritmos europeus e brasileiros.
A Influência Militar: Dobrados, Marchas e Bandas
Grande parte dos primeiros músicos de Frevo eram militares ou ex-integrantes de bandas marciais. Eles trouxeram o domínio dos instrumentos de sopro (trompetes, trombones, saxofones) e a estrutura formal das marchas.
O dobrado, uma marcha militar executada em ritmo acelerado e com ornamentações, é a influência mais direta na arquitetura sonora do Frevo.
O Temperamento Brasileiro: Maxixe, Polca e Quadrilha
Os músicos aceleraram e adaptaram a rigidez militar com a ginga de ritmos populares que já existiam no Brasil, como o maxixe (o “tango brasileiro”), a polca e a quadrilha. Essa “brasilidade” deu ao Frevo sua característica mais marcante: o improviso e o ritmo de tirar o fôlego.
A Dança: A Capoeira Encontra a Rua e Cria o “Passo”

É impossível falar da origem do Frevo sem mencionar o passo, a dança acrobática e eletrizante que o acompanha. Essa parte da história é intimamente ligada à arte marcial brasileira.
Capoeiristas: De Protetores a Criadores da Dança
Como mencionado, os clubes de rua frequentemente se confrontavam. Para garantir a segurança de seus estandartes e músicos, eles contratavam capoeiristas.
Para disfarçar as habilidades de luta, que eram proibidas, os capoeiristas começaram a incorporar seus movimentos – rasteiras, saltos, acrobacias – na dança dos cortejos, transformando o combate em arte coreográfica. Foi assim que nasceu o Passista, o bailarino do Frevo, cuja dança é pura improvisação e técnica.
- A necessidade de disfarce e a origem dos movimentos acrobáticos: Os golpes de Capoeira foram estilizados e adaptados para o ritmo do Frevo, dando origem aos mais de 100 passos catalogados hoje.
A Magia da Sombrinha
A pequena sombrinha colorida (o guarda-chuva de Frevo) que o passista empunha é um elemento crucial. Originalmente, era um guarda-chuva comum usado pelos capoeiristas para se equilibrar, ou até mesmo como um disfarce para objetos de defesa (como facas) em meio à multidão. Hoje, é um acessório de equilíbrio e uma marca visual inconfundível.
Por que o Nome “Frevo”? A Etimologia da Efervescência
O nome do ritmo é tão brasileiro quanto a sua história: ele deriva do verbo “ferver”.
A palavra surgiu na boca do povo para descrever a confusão, a agitação e a fervura da multidão que se movia descontroladamente ao som acelerado das orquestras. O escritor e jornalista Osvaldo de Almeida é creditado por ter usado o termo pela primeira vez na imprensa, em 1907.
“A grande massa é quem é o motor… é quem é o que fèrve… a massa que move tudo!”
A grafia foi adaptada de “ferver” para o popular “frever” e, por consequência, o ritmo se tornou o Frevo.
Frevo como Patrimônio: O Reconhecimento Global
A importância do Frevo transcendeu as fronteiras de Pernambuco e do Brasil. Sua complexidade musical e a riqueza de sua dança foram reconhecidas internacionalmente.
- O título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade: Em 2012, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) concedeu ao Frevo o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Esse reconhecimento sela sua relevância histórica e a necessidade de sua preservação.
Conclusão: O Frevo que Pulsa em Nossas Veias
A origem do Frevo é, portanto, uma tapeçaria rica tecida com fios de tradição militar, a ginga da Capoeira, a criatividade dos músicos e a alma festiva do povo pernambucano. É a prova de que a arte mais vibrante pode nascer da necessidade de expressão e da rivalidade.
O Frevo não é apenas um ritmo que se escuta; é uma energia que se sente e um legado que continua a pulsar forte em cada Carnaval e em cada esquina de Recife e Olinda.

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